Wolfsburg, Alemanha, 1976 : um designer brasileiro e seu assistente vão à matriz da fábrica em que trabalham,levar os esboços de um novo protótipo;Antes de apresentarem seus desenhos escutam de um diretor: "É bom que estes desenhos estejam em preto e branco e não coloridos, senão os demitirei;somos técnicos e não artistas".
É contra esse cenário tipicamente germânico (tão cinza quanto um Panzer), que se levanta um gênio brasileiro: Márcio Piancastelli.
Márcio Lima Piancastelli,nasceu em Belo Horizonte, MG em 1936;desde cedo admirador do
design de automóveis, em 1962 ganhou uma bolsa para estudar design de automóveis no renomado estúdio Ghia, em Turin, Itália,durante 1 ano, por ter ficado em 2° lugar no Prêmio Lúcio Meira.
Quando retorna ao Brasil, se emprega na Willys Overland; Vai trabalhar com a equipe que havia concluído a reestilização total do Aero Willys (então baseado em um vetuso modelo norte-americano de 1952); o novo carro era muito mais harmônico e belo;
Aero Willys 1963 -criação da equipe da qual Piancastelli fez parte
Foi para a DKW-Vemag, que produzia modelos da Auto-Union alemã sob licença;Lá trabalhou na equipe mais criativa de então, que havia lançado uns dos mais belos auto feitos no país, o DKW Fissore; o carro tinha elegantes linhas inspiradas em modelos como BMW 2002 e Fiat 1500,feita em parceria com a "carozzieire" Fissore italiana, e mecânica 2 tempos;
DKW Fissore 1966
Nessa época,os departamentos de desenho das filiais brasileiras das montadoras, eram quase clandestinos, criações novas eram feitas as escondidas das matrizes,que permitiam no máximo um retoque de lanterna, uma nova grade,ou coisa do genero, criar um auto inteiramente novo que não fosse pela matriz,era quase um crime.Porém foi nessa época que surgiram os maiores estilistas de autos de nosso pais, que deram mostras de sua criatividade muito além dos colegas das matrizes;
Com a venda da Vemag para a Volkswagen em 1967, Piancastelli foi parar na fábrica da Via Anchieta km 23,5, e ali criou seus filhos mais famosos (um deles considerado o VW mais belo de todos os tempos) juntamente com seu colaborador, José Vicente Martins, o Jota.
Assim que chega a VW,recebe do então presidente Rudolf Leiding, a tarefa de adaptar um modelo já existente na Alemanha para os padrões brasileiros;mas a mente criativa de Piancastelli inova, e ao invés de fazer apenas uma "perfumaria" no 1600 notback alemão, cria, a partir de uma Variant cortada, um fastback de linhas muito mais harmoniosas que o original, e nasce o 1600 TL; Leiding ficou tão empolgado com o novo carro,que sacou seu próprio talão de cheque e deu uma gratificação a equipe de Piancastelli, algo raríssimo na época;
VW 1600 TL 1971
No ínício de 1970, recebe um pedido de Leiding: criar um carro espaçoso,de linhas modernas,que fizesse frente a moderna concorrência (coisa que o Fusca não conseguiria) e que usasse a tradicional mecânica VW a ar;
Além disso: um esportivo que recuperasse o fôlego que o Karmann Ghia havia perdido para rivais como o Puma, que utilizava a mecânica do próprio KG e carroceria de fibra de vidro;
Piancastelli e equipe criam primeiramente o KG TC, com linhas inspiradas no Porsche 911 e lançado ainda em 1970
Karmann Ghia TC 1970
O TC era um belo veículo, mas ainda não satisfazia a VW, assim Piancastelli e equipe começam a trabalhar dois projetos em paralelo. no ano de 1972, nascia enfim um esportivo capaz de bater o Puma ; em duas versões de motorização, uma com motor 1600 e carburação simples(denomindada de SP-1 em homenagem ao estado de São Paulo e que não vingou devido ao baixo desempenho) e outra com motor 1700 e carburação dupla (batizada de SP-2 e que acabou vingando).
O carro é até hoje considerado o mais belo VW de todos os tempos, despertou inveja na matriz; o sindicato de trabalhadores alemão quiz brecar o projeto(fato que conseguiram anos mais tarde para o substituto do SP 2, o SP3 com motor de Passat e para a Brasilia com o mesmo motor);Atualmente o modelo está no museu da VW na Alemanha e é o único a estar lá não criado pela equipe de designers alemães.
VW SP-2 1972 : o mais belo VW de todos os tempos
O projeto do carro médio e espaçoso com mecânica a ar seguia; Piancastelli fez 40 esboços; pensou na plataforma do Fusca, mas essa era demasiadamente curta; a solução foi usar a da Variant. Com desenho que seguia a tendência iniciada com o Austin Mini de Alec Issigonis, nascia em 1973, o VW Brasília
Piancastelli e um "mocap" da Brasília
De cara o carro foi um sucesso: linhas agradáveis,a mecânica confiável a ar tradicional, espaço interno considerável, apesar do tamanho "pequeno" do veículo.
Piancastelli participou ainda, da criação de outro sucesso VW: O Gol,lançado em 1980 e carro mais vendido no país desde 1987; Além disso ajudou a criar, até sua aposentadoria do ramo, em 1992, os VWs Parati, Voyage,Saveiro,Logus,Pointer, novo Santana (lançado em 1991) e a chamada "segunda geração" do Gol,lançada em 1994.
Atualmente, Piancastelli desenha para o ramo de eletrodomésticos,mas sua contribuição para a indústria automotiva é eterna!
Piancastelli(2° da esquerda p/direita) e sua equipe na VW
acesse aqui para ver a entrevista de Piancastelli a jornalista Sandra Riva
Este blog é dedicado aos sonhadores que perseguiram seus objetivos,e marcaram seus nomes na história do automóvel
sábado, 19 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Dante Giacosa : il imperatore
Se a FIAT foi criada em 1889 por Giovanni Agnelli, e até os anos 30 era uma indústria de automóveis média na Europa, se tornou o império que conhecemos hoje, por causa de um nome : Dante Giacosa.
Dante nasceu em Roma, no dia 3 de janeiro de 1905 (porém era de origem piemontesa,de Nieve; seu pai estava a serviço militar na capital italiana, quando Dante nasceu).
Se graduou em engenharia mecânica na Escola Politécnica de Turin em 1927, e após um ano de serviço militar (obrigatório na Itália na época), entra na FIAT em 1928. A príncípio, Dante trabalha na divisão de veículos militares e de motores para aviação (sim ,a FIAT já fabricou tanques, veiculos de transporte, aviões,metralhadoras e até motores de submarino para as Forças Armadas italianas),o conhecimento em aeronáutica,seria seu grande trunfo no futuro, na criação de seus automóveis.Um ano depois, devido a seu empenho e dedicação, desperta a atenção de Tranquilo Zerbi, chefe das divisões militares e de competições da FIAT. Zerbi o leva para a divisão de veiculos comerciais e a Diesel, mas logo a genialidade de Dante e sua "buona fortuna", o colocam no projeto mais importante : o desenvolvimento de um novo carro que pudesse ser adquirido a um baixo custo. Com a saída de Oreste Lardone, chefe de engenharia automotiva,em 1936, coube a Dante desenvolver o projeto sozinho, e assim nascia,em 1937, sua primeira obra prima, o Fiat Topolino.
Dante Giacosa e seu Fiat Topolino
O Topolino era um carro totalmente inovador, com suspensão semi-elíptica, numa época em que a maioria esmagadora usava barras de torção (como o Fusca); o radiador estava atrás do motor, o que permitia um perfil dianteiro baixo e mais aerodinâmico ( um dos trunfos de Dante lembram?) o motor possuia 600cm³, com comando de válvula lateral.. Foi um sucesso imediato, responsável por motorizar toda a nação italiana; sobreviveu a II Guerra, e ficou em produção até 1955, quando Dante criaria seu filho mais famoso.
Fiat Topolino Conversível 1954
O Fiat 500 surge em 1955 em substituição ao lendário Topolino, e era tão inovador quanto
seu antecessor tinha sido em 1937. Possuia motores de 499cm³ inicialmente e refrigeração a ar, (algo que VW Fusca e Renault 4CV também usavam); O carrinho se tornou um icone pop;
Ídolos italianos como Sophia Loren e Marcello Mastroianni possuiam um, foi astro de inúmeros filmes italianos (e alguns estrangeiros) nos anos 60 e 70, gerou uma família inteira de novos veículos como o 600 Giardineta, ganhou versões de rally com preparação de Carlo Abarth .Teve vida tão longeva quando seu antecessor e foi produzido até 1975.
Fiat 500 L 1970
Os carros de Dante eram frutos exclusivamente de seu lápis e sua régua de cálculo;mesmo com novas tecnologias surgindo, preferia as velhas ferramentas, dizia "o computador reprime a criatividade, consegue verificar resultados rapidamente, mas não os prevê". Dante desenhava absolutamente tudo,inclusive o motor, partindo apenas de uma folha em branco.
Todos os grandes sucessos que fizeram a FIAT se tornar uma gigante, sairam de sua mente criativa;
Dante e seus filhos mais famosos :Topolino e 500
O 508 C Balilia de 1937, o 1400 de 1957,o 850 de 1964, o 124 de 1966, são filhos do genial Dante, que se aposentou em 1971. O mestre se dedicou então a criar novos gênios, escrevendo livros que são referência para a área até os dias atuais e lecionando na universidade onde se graduou. Dante Giacosa faleceu aos 91 anos de idade, lúcido e ativo, em Turin no ano de 1996.
Segundo Paolo Cantarella, ex presidente da FIAT nos anos 90, Giacosa " Fez da FIAT o que hoje ela é". Grazie maestro,grazie mille
Dante nasceu em Roma, no dia 3 de janeiro de 1905 (porém era de origem piemontesa,de Nieve; seu pai estava a serviço militar na capital italiana, quando Dante nasceu).
Se graduou em engenharia mecânica na Escola Politécnica de Turin em 1927, e após um ano de serviço militar (obrigatório na Itália na época), entra na FIAT em 1928. A príncípio, Dante trabalha na divisão de veículos militares e de motores para aviação (sim ,a FIAT já fabricou tanques, veiculos de transporte, aviões,metralhadoras e até motores de submarino para as Forças Armadas italianas),o conhecimento em aeronáutica,seria seu grande trunfo no futuro, na criação de seus automóveis.Um ano depois, devido a seu empenho e dedicação, desperta a atenção de Tranquilo Zerbi, chefe das divisões militares e de competições da FIAT. Zerbi o leva para a divisão de veiculos comerciais e a Diesel, mas logo a genialidade de Dante e sua "buona fortuna", o colocam no projeto mais importante : o desenvolvimento de um novo carro que pudesse ser adquirido a um baixo custo. Com a saída de Oreste Lardone, chefe de engenharia automotiva,em 1936, coube a Dante desenvolver o projeto sozinho, e assim nascia,em 1937, sua primeira obra prima, o Fiat Topolino.
Dante Giacosa e seu Fiat Topolino
Fiat Topolino 1937
Fiat Topolino Conversível 1954
O Fiat 500 surge em 1955 em substituição ao lendário Topolino, e era tão inovador quanto
seu antecessor tinha sido em 1937. Possuia motores de 499cm³ inicialmente e refrigeração a ar, (algo que VW Fusca e Renault 4CV também usavam); O carrinho se tornou um icone pop;
Ídolos italianos como Sophia Loren e Marcello Mastroianni possuiam um, foi astro de inúmeros filmes italianos (e alguns estrangeiros) nos anos 60 e 70, gerou uma família inteira de novos veículos como o 600 Giardineta, ganhou versões de rally com preparação de Carlo Abarth .Teve vida tão longeva quando seu antecessor e foi produzido até 1975.
Fiat 500 L 1970
Os carros de Dante eram frutos exclusivamente de seu lápis e sua régua de cálculo;mesmo com novas tecnologias surgindo, preferia as velhas ferramentas, dizia "o computador reprime a criatividade, consegue verificar resultados rapidamente, mas não os prevê". Dante desenhava absolutamente tudo,inclusive o motor, partindo apenas de uma folha em branco.
Todos os grandes sucessos que fizeram a FIAT se tornar uma gigante, sairam de sua mente criativa;
Dante e seus filhos mais famosos :Topolino e 500
Dante e um "mocap" do Fiat 1400
O 508 C Balilia de 1937, o 1400 de 1957,o 850 de 1964, o 124 de 1966, são filhos do genial Dante, que se aposentou em 1971. O mestre se dedicou então a criar novos gênios, escrevendo livros que são referência para a área até os dias atuais e lecionando na universidade onde se graduou. Dante Giacosa faleceu aos 91 anos de idade, lúcido e ativo, em Turin no ano de 1996.
Segundo Paolo Cantarella, ex presidente da FIAT nos anos 90, Giacosa " Fez da FIAT o que hoje ela é". Grazie maestro,grazie mille
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
João Conrado do Amaral Gurgel : a genialidade vs a mediocridade
Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo),fins dos anos 1940 : Os graduandos do curso de engenharia mecânica, entregam seus projetos de conclusão de curso : um guindaste.Um deles porém, tinha um ideal,e entrega o projeto de um pequeno veículo bicilindríco, que batizara de Tião;Ao ver o professor olha para ele e diz: "Carro no Brasil,não se projeta ou fabrica,Gurgel,se compra".
Gurgel ao volante do protótipo "Bastião" em 1966
João Conrado do Amaral Gurgel, o homem que pensava além de seu tempo, nasceu em Franca,interior de São Paulo em 26 de março de 1926;
Formou-se em engenharia mecânica e se pós graduou no General Motors Institute nos EUA, lá trabalhou para as divisões Buick e GMC (caminhões); ao retornar para o Brasil, se emprega na Ford; muitos se contentariam em passar a vida trabalhando para uma dessas grandes montadoras, mas o espírito de Gurgel queria mais;ser o primeiro a fabricar um automóvel 100% nacional. em 1958 cria a Moplast Moldagem de Plásticos, o embrião do que viria a ser sua maior realização no futuro : seus carros de carroceria em "Plasteel" (uma liga de aço e plástico). em 1965 lança uma linha de mini-carros, que a principio visaria ao publico infantil, batizada de "Karmann-Gurgel"
"Karmann-Ghia Gurgel" 1965
Em 1965 ainda, testa o protótipo de um carro popular, de baixo custo e fácil manutenção (coisa que só viria concretizar 20 anos mais tarde)
Gurgel ao volante do chassis do protótipo em1965
Protótipo de carro de baixo custo em 1965
Chassis do protótipo de 1965 com refrigeração a água
Mas em 1966 surge o primeiro veiculo com a marca Gurgel, o buggy Ipanema. Usava mecânica e chassis
do VW Karmann-Ghia,comprados pela Mecan ( a concessionária VW de propriedade de Gurgel), e montados num pequeno galpão na R do Cursino,2499 zona sul de São Paulo; O carro tinha linhas tão elegantes que foi elogiado por ninguém menos que Nucio Bertone (designer automotivo italiano, criador de
inúmeros carros imortais),quando este veio a São Paulo, para um concurso automotivo.
Gurgel Ipanema / Enseada 1966
De 1966 a 1968, a linha de montagem segue a plena carga, mas o galpão de Santo Amaro se torna pequeno
para os sonhos de Gurgel, e em 1969, é construida em Rio Claro,interior de São Paulo, a fábrica da GURGEL Motores S/A.
Em 1970 lança o Bugato,também com mecânica VW a ar, um buggy avaliado na época como "todo terreno", e embrião para sua famosa linha de jipes que viriam a seguir
Gurgel Bugato 1970
(Dentre as inúmeras inovações que pensa ou criava, Gurgel achava que os circuitos elétricos do carro, poderiam um dia serem impressos na carroceria de plástico do carro,como uma imensa placa de circuito
integrado,e isso em 1966!!).
Em 1972,lança o Xavante, e com ele a saga de seus jipes versáteis, (que contaria com X-12, X12TR e o Tocantins e Carajás, esse com mecânica VW a água), sempre com a mecânica VW a ar; seus jipes foram vendidos aos Exércitos de Brasil,Israel, Costa Rica e Panamá entre outros.
Gurgel Xavante 1972 (teste revista 4 Rodas)
Em meio a primeira crise do petróleo, Gurgel cria o primeiro veiculo elétrico do Hemisfério Sul: o Itaipu, com
autonomia para 2 horas de funcionamento a uma velocidade de 60 km/h (tecnologia que hoje,37 anos depois
alguns "empresários" querem trazer da Índia)
Matéria sobre o Itaipú
Gurgel tinha no inicio dos anos 80, uma bem sucedida indústria de veículos utilitários e poderia ter se contentado com isso, mas novamente o gênio não se acomodou e em 1987, lança o seu grande sonho, um veículo 100% nacional, que a principio batizado de CENA (Carro Econômico Nacional), para depois ser chamado de Gurgel BR-800. Para tornar o projeto acessível, Gurgel usou medidas e componentes já fabricados anteriormente (os pistões tinham o mesmo curso e diâmetro dos usados no Fusca e a caixa de câmbio fabricada pela Clark, era a mesma usada no Chevette 1.4 dos anos 70), fato que seus críticos costumam usar
para desdenhar do projeto, mas o carro podia ser comprado por US$ 2.500,despertando irritação nas grandes montadoras,em especial na VW,sua parceira de longa data.
O CENA em reportagem da 4 Rodas 08/1987 : aprovado
O novo motor, bicilindríco, de 800cm³ refrigerado a água foi batizado de Engetron, era de manutenção
simples e confiável.Para captar recursos, Gurgel lança uma campanha: quem comprasse o carrinho, gahnaria
ações da fábrica (numa propaganda, Gurgel aparece ao lado do BR 800 com a frase: se Henry Ford lhe
convidasse para ser sócio aceitaria?)
Gurgel BR-800 SL 1992
O Brasil do ínicio dos anos 90 vivia uma transição política;tinhamos um presidente eleito pelo voto popular, pela 1°vez em 30 anos.Mas o que se sucedeu nos anos seguintes todos nós sabemos o desfecho;
Gurgel confiou em políticos desonestos (quase pleonasmo) e assinou dois acordos de intenções com os governos de SP e Ceará ( no Nordeste ficaria a fábrica de motores), fez empréstimo, comprou maquinários modernos, mas de uma hora para outra, aqueles que deveria ter caráter não honraram suas promessas, e
se retiraram dos acordos. Gurgel se viu com uma divida enorme, sem as fábricas que abrigariam seus maquinários modernos. Lutou até o fim, (ele mesmo foi montar as últimas unidades) mas a mediocridade venceu a genialidade e Gurgel foi a falência em 1994.Passou seus últimos anos debilitado pelo Mal de
Alzheimer, e faleceu em 30 de janeiro de 2009. Sua fábrica foi leiloada e se transformou um pequeno parque industrial.Em 2004, um "empresário", se aproveitando do descaso de nossos poderes,adquiriu a marca Gurgel Motores junto ao INPI por míseros R$ 850,00 ( e contra a vontade dos herdeiros de Gurgel) e usa o nome outrora respeitado,para trazer triciclos chineses.O professor tinha razão Gurgel, carro nesse país não se ousa fazer mestre,não se ousa...
Assistam também ao documentário "Sonhos Enferrujam" feito pelos alunos da ECA/USP em 2004
"Sonhos Enferrujam" 1°parte
Fábrica Gurgel,antes e depois da falência
X-12 Tocantins
Gurgel XEF
Gurgel ao volante do protótipo "Bastião" em 1966
João Conrado do Amaral Gurgel, o homem que pensava além de seu tempo, nasceu em Franca,interior de São Paulo em 26 de março de 1926;
Formou-se em engenharia mecânica e se pós graduou no General Motors Institute nos EUA, lá trabalhou para as divisões Buick e GMC (caminhões); ao retornar para o Brasil, se emprega na Ford; muitos se contentariam em passar a vida trabalhando para uma dessas grandes montadoras, mas o espírito de Gurgel queria mais;ser o primeiro a fabricar um automóvel 100% nacional. em 1958 cria a Moplast Moldagem de Plásticos, o embrião do que viria a ser sua maior realização no futuro : seus carros de carroceria em "Plasteel" (uma liga de aço e plástico). em 1965 lança uma linha de mini-carros, que a principio visaria ao publico infantil, batizada de "Karmann-Gurgel"
"Karmann-Ghia Gurgel" 1965
Em 1965 ainda, testa o protótipo de um carro popular, de baixo custo e fácil manutenção (coisa que só viria concretizar 20 anos mais tarde)
Gurgel ao volante do chassis do protótipo em1965
Protótipo de carro de baixo custo em 1965
Chassis do protótipo de 1965 com refrigeração a água
Mas em 1966 surge o primeiro veiculo com a marca Gurgel, o buggy Ipanema. Usava mecânica e chassis
do VW Karmann-Ghia,comprados pela Mecan ( a concessionária VW de propriedade de Gurgel), e montados num pequeno galpão na R do Cursino,2499 zona sul de São Paulo; O carro tinha linhas tão elegantes que foi elogiado por ninguém menos que Nucio Bertone (designer automotivo italiano, criador de
inúmeros carros imortais),quando este veio a São Paulo, para um concurso automotivo.
Gurgel Ipanema / Enseada 1966
De 1966 a 1968, a linha de montagem segue a plena carga, mas o galpão de Santo Amaro se torna pequeno
para os sonhos de Gurgel, e em 1969, é construida em Rio Claro,interior de São Paulo, a fábrica da GURGEL Motores S/A.
Em 1970 lança o Bugato,também com mecânica VW a ar, um buggy avaliado na época como "todo terreno", e embrião para sua famosa linha de jipes que viriam a seguir
Gurgel Bugato 1970
(Dentre as inúmeras inovações que pensa ou criava, Gurgel achava que os circuitos elétricos do carro, poderiam um dia serem impressos na carroceria de plástico do carro,como uma imensa placa de circuito
integrado,e isso em 1966!!).
Em 1972,lança o Xavante, e com ele a saga de seus jipes versáteis, (que contaria com X-12, X12TR e o Tocantins e Carajás, esse com mecânica VW a água), sempre com a mecânica VW a ar; seus jipes foram vendidos aos Exércitos de Brasil,Israel, Costa Rica e Panamá entre outros.
Gurgel Xavante 1972 (teste revista 4 Rodas)
Em meio a primeira crise do petróleo, Gurgel cria o primeiro veiculo elétrico do Hemisfério Sul: o Itaipu, com
autonomia para 2 horas de funcionamento a uma velocidade de 60 km/h (tecnologia que hoje,37 anos depois
alguns "empresários" querem trazer da Índia)
Matéria sobre o Itaipú
Gurgel tinha no inicio dos anos 80, uma bem sucedida indústria de veículos utilitários e poderia ter se contentado com isso, mas novamente o gênio não se acomodou e em 1987, lança o seu grande sonho, um veículo 100% nacional, que a principio batizado de CENA (Carro Econômico Nacional), para depois ser chamado de Gurgel BR-800. Para tornar o projeto acessível, Gurgel usou medidas e componentes já fabricados anteriormente (os pistões tinham o mesmo curso e diâmetro dos usados no Fusca e a caixa de câmbio fabricada pela Clark, era a mesma usada no Chevette 1.4 dos anos 70), fato que seus críticos costumam usar
para desdenhar do projeto, mas o carro podia ser comprado por US$ 2.500,despertando irritação nas grandes montadoras,em especial na VW,sua parceira de longa data.
O CENA em reportagem da 4 Rodas 08/1987 : aprovado
O novo motor, bicilindríco, de 800cm³ refrigerado a água foi batizado de Engetron, era de manutenção
simples e confiável.Para captar recursos, Gurgel lança uma campanha: quem comprasse o carrinho, gahnaria
ações da fábrica (numa propaganda, Gurgel aparece ao lado do BR 800 com a frase: se Henry Ford lhe
convidasse para ser sócio aceitaria?)
Gurgel BR-800 SL 1992
O Brasil do ínicio dos anos 90 vivia uma transição política;tinhamos um presidente eleito pelo voto popular, pela 1°vez em 30 anos.Mas o que se sucedeu nos anos seguintes todos nós sabemos o desfecho;
Gurgel confiou em políticos desonestos (quase pleonasmo) e assinou dois acordos de intenções com os governos de SP e Ceará ( no Nordeste ficaria a fábrica de motores), fez empréstimo, comprou maquinários modernos, mas de uma hora para outra, aqueles que deveria ter caráter não honraram suas promessas, e
se retiraram dos acordos. Gurgel se viu com uma divida enorme, sem as fábricas que abrigariam seus maquinários modernos. Lutou até o fim, (ele mesmo foi montar as últimas unidades) mas a mediocridade venceu a genialidade e Gurgel foi a falência em 1994.Passou seus últimos anos debilitado pelo Mal de
Alzheimer, e faleceu em 30 de janeiro de 2009. Sua fábrica foi leiloada e se transformou um pequeno parque industrial.Em 2004, um "empresário", se aproveitando do descaso de nossos poderes,adquiriu a marca Gurgel Motores junto ao INPI por míseros R$ 850,00 ( e contra a vontade dos herdeiros de Gurgel) e usa o nome outrora respeitado,para trazer triciclos chineses.O professor tinha razão Gurgel, carro nesse país não se ousa fazer mestre,não se ousa...
Assistam também ao documentário "Sonhos Enferrujam" feito pelos alunos da ECA/USP em 2004
"Sonhos Enferrujam" 1°parte
Fábrica Gurgel,antes e depois da falência
X-12 Tocantins
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